Para nós, do Projeto Purpurina, é uma honra estarmos aqui na Assembleia Legislativa, ao lado de nossa querida Edith Modesto que fez questão de que nós fizéssemos uma fala. Ela disse para nós que essa homenagem não pode ser apenas direcionada para ela, pois o trabalho do GPH – Grupo de Pais de Homossexuais é um trabalho realizado em conjunto com outras pessoas.

 

Esperamos que essa homenagem seja a premissa de que nós, jovens do Projeto Purpurina, jovens LGBTs, seremos vistos e tratados como seres humanos e cidadãos de direito.

Direito à Educação. Queremos ir à escola e não ser motivo de chacotas, piadinhas, humilhações e agressões por parte de estudantes, professores e funcionários. Queremos ir à escola para estudar e aprender, queremos trocar conhecimentos e nos fortalecer enquanto cidadãos.

Direito à Saúde. Queremos ter acesso aos serviços de saúde de forma igualitária às outras pessoas. Não queremos ser vistos como grupos de risco, como patologias. Queremos ser reconhecidos em nossa subjetividade.

Direito ao Trabalho. Queremos poder adentrar ao mercado de trabalho, a poder escolher aquela profissão que queremos. Chega de guetos, chega de profissões invisíveis e marginalizadas.

Direito à Segurança. Queremos poder recorrer aos serviços de segurança pública e nos sentirmos protegidos. Queremos ser atendidos de forma digna e respeitosa.

 

Esses são apenas alguns dos direitos que nos são negados.

Mas o mais importante é que queremos ter o Direito à vida e a liberdade. Queremos poder viver como somos, com nossas virtudes e defeitos. Queremos ser livres para escolher nossos caminhos. E não precisamos do direito a amar, porque esse é um direito que não pode ser negado para nós. Nós já amamos e amamos muito. Queremos sim ter o direito ao amor, a amar e ser amado de volta, a ser respeitado, compreendido em nossa subjetividade, a ser considerado como um sujeito de direitos.

 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida em 1948 e quase 63 anos depois, ainda estamos aqui pedindo para que ela seja respeitada. Ainda somos despedidos de nossos empregos. Ainda temos de aguentar sermos comparados a pedófilos, a estupradores. Ainda temos que ouvir que nossa orientação sexual e identidade de gênero é fruto de sem-vergonhice, de mau caráter. Ainda temos que ouvir que estamos doentes, que precisamos ir a um médico, a um psicólogo. São tantas injúrias e difamações que temos que ouvir. E muitas vezes, nós, jovens, ainda nem sabemos o que somos. São tantas mortes de nossa população que temos que agüentar e, mesmo assim, ainda não temos uma lei que nos proteja.

 

Mas apesar de tudo, esperamos que um dia essa homenagem seja apenas uma lembrança, seja apenas uma parte de nossa história. Porque esperamos que um dia, nossos direitos, nossos direitos humanos, sejam plenamente respeitados e colocados em prática. Espero que um dia eu não precise dizer que tenho orgulho de ser lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, transgênero, espero que um dia eu tenha orgulho de dizer que sou brasileiro, que sou humano.

Aryel Murasaki