O GADvS – Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero, vêm a público expressar seu profundo pesar pelo falecimento da ativista Fernanda Benvenutty, aos 57 anos, vitimada pelo câncer. [1]

Fernanda foi uma ativista histórica do movimento brasileiro de travestis, mulheres transexuais e homens trans, paraibana, técnica em enfermagem, integrante de escola de samba e uma amiga querida.

Como ativista, Fernanda teve uma trajetória longa e frutífera em seu estado e em âmbito nacional. Durante os anos de 2004 a 2008 foi vice-presidenta da ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais, maior e mais antiga rede de pessoas trans do Brasil. Fernanda participou ativamente da conquista de alguns direitos e da elaboração das principais políticas públicas para a população LGBTI+ brasileira, como o Programa “Brasil Sem Homofobia” e o “Processo Transexualizador”, pelo SUS, bem como o respeito ao nome social das pessoas trans. Foi também conselheira no Conselho Nacional de Saúde, representando a ANTRA. Dialogava com todas as principais redes LGBTI+ brasileiras, sendo profundamente respeitada e admirada por todas, todes e todos.

Homenageamos Fernanda fazendo ecoar sua importantíssima voz uma vez mais, através dos arquivos pessoais de nosso integrante Thiago Coacci, que remexeu as gravações que fez durante seu Doutorado e localizou a seguinte fala, potente e emocionante, de Fernanda durante o XXII ENTLAIDS, em Teresina (PI), onde fez um balanço do Movimento Trans e de sua própria história pessoal, divulgada na página Larvas Incendiadas:

“Às vezes eu quero desistir desse movimento. Eu digo que eu já cheguei aos 56 anos, já fiz algumas coisas. Ajudei porque eu não fiz tudo. Nós não fizemos tudo ainda porque tem muita coisa para ser feita, mas as vezes eu digo eu já fiz a minha parte. E se eu já fiz a minha parte, por que que eu vou me acomodar? Eu queria… Eu queria estudar, eu estudei. Eu queria fazer concurso público, eu fiz nove, passei em sete, assumi quatro, deixei dois, agora só estou com dois, daqui a pouco eu tô com mais nenhum porque eu não aguento mais, né? E você vai nessa trajetória. Eu queria construir família, eu construí família. Eu queria trabalhar num grande hospital, eu consegui trabalhar. Eu queria transitar na sociedade, eu consegui. Eu queria ir para a política, eu fui. Só não fui eleita, mas permeei esse meio um bocado de tempo. Mas eu não vou me acomodar porque eu construí família e a minha família, a nossa família que também é tão vítima do preconceito quanto nós. Porque se os pais da gente sofrem com o preconceito que nos atinge, a gente que é travesti, gay ou lésbica, mas que tem filho seja biológico ou não – mas é filho. Filho é filho, independente de onde ele vem – também sofre preconceito. E aí, a gente tem que pensar na geração do futuro. Então, quando a gente constrói toda essa trajetória de movimento, quando a gente começa a criar os encontros, os eventos, as paradas que as pessoas criticam… Criticar a parada a gente critica. E aí eu digo, eu faço críticas sim ao movimento. Mas as nossas críticas não é pra destruir. As nossas críticas é para que a gente melhore”[2]

Nossos sinceros sentimentos às suas companheiras e companheiros de luta, amigas(os) e familiares.

São Paulo, 02 de fevereiro de 2020.

 

GADvS
pp. Thiago Coacci e Paulo iotti

[1] Cf. <https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2020/02/02/fernanda-benvenutty-morre-aos-57-anos-em-joao-pessoa.ghtml>.

[2] Fonte: <https://www.facebook.com/Incendiadas/videos/323301915266124/?__xts__[0]=68.ARCATbQDeSRbdUtpBZdB3SFvxtozFE40BgINqV8LAZHuhvywqPx8ljQdscoRQlItblPggJIkONR-QdIzAHpNEmqI-WsJnXLD0lteOKMY8iCZaw9HN4orh3Bv6i54QWqPBGohlC7bN6BPBeZaB97YZ8FYsDd5yfOfeSxLuezeIOs9miDT86vp5iNg_BOb8lewBz7obRd1alfhmHtEvXzO2fcPHFechbqGHXrwqomhWuhi-ON4GoxLqgEWGeGyA2t5f8opAEw0BWp7H936NU1LwCF7tQGARlKbJDmheifYUK9pCvqs4Ax3Af4d3bp2a-gGs2plN0H6sUrW4Y-WQJBnp40ei84rDxhAwprvEw&__tn__=H-R>